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Pur-tu-gal (6) – Música pra vinho dormir


Por Fernando Molica em 13 de junho de 2008 | Comentários (1)

O filho de um amigo tinha, lá pelos seus seis ou sete anos, um hábito curioso: adorava dormir ao som de CDs do Madredeus, aquele grupo que deu uma sacudida – sacudida talvez não seja o termo mais correto, as canções, ainda que belas, são leeeeeennnnnntas – no panorama musical português.

Pois. Fomos visitar a Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, no Alentejo, uma ótima produtora de vinhos. O local é belíssimo, a visita – gratuita – é interessante, simpática, o almoço é ótimo (um pouco caro, talvez, mas vale a pena).

Eis que, na visita, chegamos às caves, onde, em barris de carvalho, estagiam (eles usam este verbo) aqueles que serão os melhores vinhos da casa. Trata-se de um corredor de 70 metros de comprimento por 15 metros de largura, que guarda aquele jeitão meio reverencial comum em locais como esse – fala-se baixo, a iluminação é discreta, ai de quem perturbar o soninho daquelas preciosidades que descansam nas incubadeiras de madeira importada dos Estados Unidos e da França.

Em meio às explicações do guia, ouço uma música meio familiar. Peço licença, interrompo a explicação e confirmo minha suspeita: ali, velando o sono dos vinhos, toca-se Madredeus. O sujeito diz que isso não influencia nada no produto final, que a música serve apenas para compor a ambientação. Tá bom. Mas foi inevitável lembrar do filho do meu amigo, hoje um grandalhão que continua a gostar de boa música.

Em tempo: o CD “Você e eu” da cantora Teresa Salgueiro, a voz do Madredeus, serviu de trilha sonora de parte da viagem e é belíssimo. Ela interpreta, com extrema sensibilidade, alguns clássicos da música brasileira – muita bossa nova e preciosidades como “Risque”, de Ary Barroso. Bem acompanhada pelo septeto de João Cristal, Teresa aposta num tom mais jazzístico que lhe cai muito bem. O leve sotaque português, especialmente em canções de Dorival Caymmi, fez disparar um indefinido cantinho da minha memória musical. A Bárbara matou a charada: lembra Carmem Miranda, ó pá. Embora tenha vindo ainda criança de Portugal, Carmem conviveu por muito tempo com o sotaque português que, repara só, dá sinais em suas interpretações.

Por último: ouvir no carro Teresa cantando “Valsa de uma cidade” (de Ismael Neto e Antônio Maria) enquando se passa pelo litoral norte do Porto, em direção a Matosinhos, chega a emocionar: o cenário meio anos 50, com aquela decadência elegante que se nota aqui e ali em Portugal, fez lembrar do Rio, deu uma saudade danada.

O filho de um amigo tinha, lá pelos seus seis ou sete anos, um hábito curioso: adorava dormir ao som de CDs do Madredeus, aquele grupo que deu uma sacudida – sacudida talvez não seja o termo mais correto, as canções, ainda que belas, são leeeeeennnnnntas – no panorama musical português.

Pois. Fomos visitar a Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, no Alentejo, uma ótima produtora de vinhos. O local é belíssimo, a visita – gratuita – é interessante, simpática, o almoço é ótimo (um pouco caro, talvez, mas vale a pena).

Eis que, na visita, chegamos às caves, onde, em barris de carvalho, estagiam (eles usam este verbo) aqueles que serão os melhores vinhos da casa. Trata-se de um corredor de 70 metros de comprimento por 15 metros de largura, que guarda aquele jeitão meio reverencial comum em locais como esse – fala-se baixo, a iluminação é discreta, ai de quem perturbar o soninho daquelas preciosidades que descansam nas incubadeiras de madeira importada dos Estados Unidos e da França.

Em meio às explicações do guia, ouço uma música meio familiar. Peço licença, interrompo a explicação e confirmo minha suspeita: ali, velando o sono dos vinhos, toca-se Madredeus. O sujeito diz que isso não influencia nada no produto final, que a música serve apenas para compor a ambientação. Tá bom. Mas foi inevitável lembrar do filho do meu amigo, hoje um grandalhão que continua a gostar de boa música.

Em tempo: o CD “Você e eu” de Teresa Salgueiro, a voz do Madredeus, serviu de trilha sonora de parte da viagem e é belíssimo. Ela interpreta, com extrema sensibilidade, alguns clássicos da música brasileira – muita bossa nova e raridades como “Risque”, de Ary Barroso. Bem acompanhada do septeto de João Cristal, Teresa aposta num tom mais jazzístico que lhe cai muito bem. O leve sotaque português, especialmente em canções de Dorival Caymmi, fez disparar um indefinido cantinho da minha memória musical. A Bárbara matou a charada: lembra Carmem Miranda, ó pá. Embora tenha vindo ainda criança de Portugal, Carmem conviveu por muito tempo com o sotaque português que, repara só, dá sinais em suas interpretações.

Por último: ouvir no carro Teresa cantando “Valsa de uma cidade” (de Ismael Neto e Antônio Maria) enquando se passa pelo litoral norte do Porto, em direção a Matosinhos, chega a emocionar: o cenário meio anos 50, com aquela decadência elegante que se nota aqui e ali em Portugal, fez lembrar do Rio, deu uma saudade danada.

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Comentários
13 de junho de 2008

Que incrível esse "túnel". Já visitei algumas vinícolas na Serra Gaúcha, mas não tinham esse aspecto, não - e, como estávamos em um grupo de turistas, a última coisa que havia ali era silêncio.

Mariana Bradford