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RF e RC


Por Fernando Molica em 10 de maio de 2009 | Comentários (6)

Em meio ao disse-me-disse em torno da saída de Rubem Fonseca da Companhia das Letras, li num jornal algo que me surpreendeu: as vendas dos seus últimos livros patinaram entre 15 mi e 20 mil exemplares. Um ótimo patamar para a literatura brasileira contemporânea, mas números baixíssimos quando falamos de um escritor que já lançou ótimos livros, que não deixa de ser referência e não pára de despertar paixões – contra e a favor – entre nós.

OK, seus últimos livros pouco acrescentam à sua obra, tendem à repetição, são meio assim-assim. Mas todos foram recebidos com festa. Capas nos cadernos literários, resenhas quase sempre elogiosas ilustradas por uma foto do autor feita de forma clandestina.

Sei não, acho que há algo errado nessa história toda. Ou o cara continua bom e o público ficou mais desinteressado, ou o sujeito piorou e os leitores têm tem toda razão em não dar muita bola para seus novos livros. Pode haver também uma combinação desses e de outros fatores. De qualquer forma, fica a impressão de um certo conservadorismo de quem dita as regras do bom/ruim, do divulgável/não-divulgável. Livro de Rubem Fonseca não é CD de Roberto Carlos para conquistar espaço apenas por inércia. Isso é injusto com o leitor e também com o próprio RF.

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Comentários
18 de maio de 2009

Caríssimo. Também acho que há uma certa implicância com o RF, algo semelhante - ainda que sem a mesma intensidade - do que ocorreu com o Jorge Amado. De uns anos pra cá ficou meio feio elogiar o baiano (cujos últimos livros também ficaram aquém do melhor de sua obra). Também de uns anos pra cá ficou meio esquisito se elogiar o RF - algo quase freudiano, uma certa necessidade de se matar um suposto e questionável pai de todos. Deixemos o sujeito em paz, se divertindo com as editoras que disputam o direito de publicá-lo, e tratemos de nossas vidas e livros. Mas insisto: esse descompasso entre leitores e livros (e aí me refiro à produção nacional contemporânea) merece mais discussão e análise.

Fernando Molica
18 de maio de 2009

Indicação de leitura da patroa, "Literatura em perigo", do Todorov. O negócio tá perigando mesmo, como você mesmo percebeu ao afirmar que a literatura contemporânea é consumida pelos próprios pares. Penso como você, o nosso grande R.F. não é o R.C.. Mas, talvez, o R.F. esteja dando um tratamento inesperado a sua produção, não queira mais produzir algo que tenha uma representatividade para a crítica, depositando agora seu esforço na manutenção de seus leitores. Não foi o seu movimento, mas acho que agora virou moda bater no R.F., agora virou quase ofensa ser comparado ao R.F.. Gosto do velho ( ou seria o novo) Fonseca, não li nada novo dele, parei no "Pequenas criaturas". Achei no momento fraco, mas, para ser sincero, o "Comandante Fonseca", como o Fidel o chama, não precisa produzir mais nada novo, revelador e inovador para a nossa literatura.

paulo
16 de maio de 2009

Também acho. Mas é um número desproporcional ao ôba-ôba criado na época dos lançamentos. Prova, creio, do discernimento do leitor, que talvez saiba garimpar os melhores livros do RF. Mas também isso provaria uma falta de foco de quem cabe avaliar e exaltar (e criticar) os lançamentos. Na dúvida, aposta-se no mesmo. Mesmo que o mesmo não seja mais a mesmo (desculpe, não resisti). abs.

Fernando Molica
16 de maio de 2009

Caríssimo Diego. De um modo geral, acho que a crítica brasileira é até complacente. O mais angustiante, creio, não é a porrada, mas a falta de conversa, de discussão. Não veja isso como um desabafo pessoal, não faria o menor sentido - até porque, de um modo geral, meus livros foram bem resenhados. Mas acho que a literatura brasileira contemporânea não tem, na prática, a menor importância. Não quero dizer aqui que os livros sejam bons ou ruins - há de tudo. Mas quase todos não cumprem uma etapa fundamental, a de chegar ao leitor. Na prática, acabamos escrevendo para outros escritores, para editores e resenhistas. Ah, e para uns poucos leitores. A maioria dos leitores - confira as listas dos mais vendidos - não está nem aí para a produção brasileira. O Chico Buarque - que fez o ótimo 'Budapeste' (ainda não li seu livro mais recente) - vai para as listas menos pela qualidade do trabalho do que pelo seu nome. Ainda bem que está lá. O Tezza ganhou um cacetal de prêmios, e seu "O filho eterno" mal esquentou lugar entre os mais vendidos. Enfim, há um problema aí. Não sei se nosso - dos autores -, dos editores, dos cadernos especializados ou dos leitores. O mais provável é que seja um problema de todos. Ou, como um amigo uma vez comentou, talvez as pessoas estejam meio cansadas de Brasil. Abs.

Fernando Molica
15 de maio de 2009

15 mil pros mais recentes livros? Ta e bom!

Marcelo
15 de maio de 2009

Eis aí uma das minhas angústias em entrar para o ramo literário... Não que a crítica seja o mais relevante ou que eu ache que se deva escrever para ela aplaudir. Mas é chato você fazer um trabalho cuidadoso e um camarada esculhambar tudo o que você fez em algumas linhas... Mas, no fim das contas, acho que vale a pena. Estou preparando minhas linhas para um futuro não muito distante. Abraços!

Diego Moreira