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Rio


Por Fernando Molica em 15 de fevereiro de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 15/02:

Quando eu era adolescente, a aproximação do Carnaval vinha acompanhada da angústia de encontrar um lugar para passar os dias de festa. Valia tudo: desde a favorita Cabo Frio até lugares como Muriqui, Araruama, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande e Iguabinha. O importante era sair do Rio, onde o Carnaval ficara reduzido aos desfiles das escolas e dos chamados blocos de enredo.

Criança, ia a bailes de clubes como River, Oposição e Pontal e, à noite, dava uma chegada na Avenida Suburbana para, com meus pais e minha avó, ver a passagem dos blocos de sujos — lembro de uns sujeitos que usavam fronhas pintadas na cabeça. Volta e meia íamos à Rio Branco conferir as fantasias de foliões mais criativos. Os blocos de sujos foram sumindo, o Carnaval de rua no subúrbio acabou sendo sustentado pelos grupos de Piranhas, homens que iam às ruas com roupas de mulheres.

Anos depois, não havia muito o que fazer no Carnaval. Quando não rolava a opção Muriqui, eu passava o dia zanzando para, à noite, acompanhar pela TV o desfile das escolas de samba. Dava até um pouco de inveja de cidades como Salvador e Olinda, ocupadas por multidões que praticavam um Carnaval fora dos salões e sem a rigidez dos desfiles oficiais. Aqui no Rio, nem mesmo o Cordão da Bola Preta conseguia juntar muita gente; lá pelo início dos anos 80, sua bandinha — que ia no chão, sem qualquer tipo de aparelhagem de som — reunia uns poucos veteranos. Seu desfile no sábado servia mesmo para os jornais fazerem uma matéria pra lá de manjada, que anunciava o início dos festejos.

A volta da democracia fez o Carnaval de rua pegar no tranco: muitos dos que fizeram passeatas pela anistia e pelas eleições diretas redescobriram como era bom botar o bloco na rua. Todas as praças, e não apenas a Castro Alves, voltaram a ser do povo. Isto, temperado pela simpatia carioca, que, sabemos, é quase amor. De lá pra cá, blocos começaram a surgir quase que por geração espontânea. Até bloco de jornalista — esta gente meio ranzinza, sem ritmo e fora de forma — deu certo! O resultado chega a ser assustador, o poder público teve que entrar em campo para tentar administrar uma festa que parece brotar em cada esquina. Uma alegria sem cordas, bem-humorada, gratuita, que dispensa a compra de abadás. Uma festa que, unida ao espetáculo do Sambódromo, tornou a fazer do Rio o melhor lugar também para se passar o Carnaval. Daqui não saio, daqui ninguém me tira.

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