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RJ


Por Fernando Molica em 16 de fevereiro de 2018 | Comentários (0)

O que faliu não foi apenas a segurança pública do Rio de Janeiro, mas toda a estrutura política-institucional do estado. A crise nacional, a queda do preço do petróleo, a prisão de lideranças do MDB, a divulgação da roubalheira comandada por Cabral, o fim das pedaladas financeiras do governo, os atrasos de salários do funcionalismo, a quebra dos serviços públicos e a inapetência administrativa de Pezão permitiram que todas as comportas fossem arrombadas.

Uma situação caótica como a vivida no RJ só é possível com a parceria de agentes públicos – e não falo apenas de policiais e de políticos. O caso da deputada Cristiane Brasil – suspeita de ter feito acordos eleitorais com traficantes – não é isolado. Esta cumplicidade é fundamental para garantir, por exemplo, o fluxo contínuo de armas e munição para bandidos e a imunidade dos territórios por eles controlados. Ou será que alguém acha que os chamados traficantes de favelas são capazes de negociar esse tipo de contrabando no exterior? Não haverá possibilidade de melhoria da situação sem que seja quebrada esta associação entre bandidos-bandidos e bandidos-agentes do Estado.

Os atrasos nos pagamentos de gratificações a policiais, o achatamento salarial, a redução de efetivo das corporações, os muitos problemas de estrutura (instalações precárias, falta de combustível, carros quebrados) e a sucessão de assassinatos de policiais militares e civis colaboraram para um afrouxamento do trabalho de repressão/investigação. Fica também difícil arriscar a própria vida para combater o crime num estado em que o ex-governador está na cadeia. A polícia ficou mais violenta, menos obediente, mais vulnerável em todos os aspectos. Violência policial está, quase sempre, não à eficiência, mas à corrupção.

Não é difícil também perceber o quanto as crises – econômica e moral – influenciam no comportamento de tantos jovens que acreditaram em promessas do governo. Jovens que viram falir o processo de pacificação de favelas, que testemunharam o abandono de seus bairros, que viram minguar as chances de emprego, que sofreram as consequências de atrasos de salários e aposentadorias de seus pais e avós, que lamentaram o fim de iniciativas como as bibliotecas comunitárias, que são tratados como inimigos pela polícia. Não dá pra exigir que todos esses adolescentes tenham respeito pelo Estado e esperança de uma vida melhor dentro dos caminhos institucionais – alguns perdem a paciência e partem pro confronto.

O Estado ficou uma bagunça, os assassinatos ocorridos nos últimos dias e a proliferação de arrastões comprovam. Mas a tragédia nas ruas é consequência direta da bagunça, da roubalheira, da cumplicidade e da incompetência de agentes do Estado. Eles é que começaram.

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