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Salve a feijoada do Jorge do Renascença


Por Fernando Molica em 18 de dezembro de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 5/12:

Ao contrário do que anda acontecendo com a novela das nove, Jorge Ferraz, comandante-em-chefe das panelas do Renascença, é sucesso de público e crítica. Domingo passado, ele aproveitou o Dia Nacional do Samba para preparar aquela que, garante, foi a sua milésima feijoada.

Assim como craques do futebol fazem gol de tudo que é jeito — de cabeça, de bicicleta, com pé direito, com o esquerdo –, a marca de Jorge foi atingida graças a um extenso repertório de variações culinárias. Há alguns anos, para ajudar a levantar fundos para o clube, ele chegou a inventar um rodízio de feijoadas, a cada semana preparava a iguaria com um tipo diferente de feijão. Fiel ao espírito do Rena, referência da cultura negra, Jorge não tem preconceito, traça feijões de todas as cores. Mas, fiel à tradição do clube, o preto é que costuma dar as cartas por lá.

Para usar parâmetros tão ao gosto da imprensa: como Jorge, bombeiro aposentado, costuma usar cerca de 40 quilos de feijão a cada rodada, ao longo de tantos anos terá despachado umas 40 toneladas de leguminosas e umas 160 toneladas de carne para aqueles panelões. Quantidades suficientes para influenciar as cotações de feijão e de suínos no mercado agropecuário. Prático, Heitor e Cícero, os simpáticos Três Porquinhos, devem manter uma prudente distância da Rua Barão de São Francisco, onde fica a sede do Rena.

Sem camisa, com o peito coberto por um avental personalizado, Jorge dava detalhes sobre a empreitada. Para marcar o milésimo tento, fez uma graça a mais. Auxiliado por Chiclete — outro craque da tradicional gastronomia carioca de botequim –, fez questão de cozinhar grãos e carne na lenha, ritual que varou a madrugada. No fim das contas, todas as carnes derretiam — as dos porquinhos sacrificados e as nossas, submetidas ao sol que esturricava a tarde no Andaraí e fazia evaporar a cerveja dos copos.

Ao lado do panelão, Jorge Alberto, médico oftamologista, explicava a origem do ritual: como sempre saía com fome de churrascos, sugeriu ao primo Jorge Ferraz a preparação de um prato com mais sustança, um feijãozinho. Deu no que deu. O feijão misturou-se ao samba, outro alicerce do Rena. Domingo, as notas vindas dos instrumentos subiam, se misturavam ao perfume do feijão, refrescavam o espírito e tiravam todos os pesos d’alma. Que venha logo a feijoada de número 2.000.

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