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PONTOS DE PARTIDA, O BLOG DO MOLICA

Sexo!


Por Fernando Molica em 15 de outubro de 2008 | Comentários (1)

Na entrevista publicada hoje em “O Globo”, sobre seu manifesto contra o que considera pornografia na produção de cinema e TV, o ator Pedro Cardoso levanta uma questão bem interessante. Para ele, não cabe à obra de arte provocar sensações como a excitação sexual:

Acredito que a dramaturgia, que é arte de contar histórias, busca oferecer ao público um pensamento, e não uma sensação. Esta pertence à vida. É na vida que sentimos frio e fome; na arte, falamos do frio e da fome, se possível com alguma inspiração.

Não sei se é possível se fazer uma separação tão rígida. Ainda que concorde que há muito voyerismo motivado mais por razões comerciais do que por questões artísticas, acho complicado fazer uma condenação absoluta, não dá para dizer que não cabe à narrativa artística o direito de provocar sensações – penso, de cara, no “Sexus”, no Henry Miller. No livro, a tal provocação é um elemento fortíssimo da narrativa. A questão, creio, é saber em que uma narração pode acrescentar ao óbvio – e hoje, nada é mais óbvio e banal do que imagens ou textos sobre sexo. Como ser original, acrescentar uma outra perspectiva, como não ser apenas mais um participante da suruba?

Há alguns poucos anos, quase travei ao escrever uma cena de sexo para o “Bandeira negra, amor”. O que afinal eu queria com aquelas linhas? Naquele momento, seria importante passar a idéia de libertação da personagem – depois de ter passado por uma série de circunstâncias desagradáveis, ela se sentia mais livre, não tinha o que perder. A cena de sexo tinha a ver com isso, com uma espécie de transgressão libertária. Para mim estava claro que – naquela cena, e friso, não me refiro a cenas de sexo em geral – o mais importante seria falar da personagem e não tentar excitar o leitor. O tesão importante seria o dela, não o do leitor.

O problema foi escapar dos clichês que acompanham a descrição do ato sexual – todas as palavras parecem velhas, desgastadas, como se saídas de algumas daquelas narrativas de revistas pornôs: tudo muito molhado, duro, grande. No fim das contas, gostei do resultado, mas, admito, sou suspeito para avaliar.

Acho que, como no sexo em si, não dá para estabelecermos regras precisas para a sua representação. O desagradável aqui pode ser ótimo ali adiante. A questão é saber delinear cada situação. Há alguns anos, num debate que mediei na Bienal do Rio, a Cintia Moscovich disse que, quando escrevia sobre sexo, queria que sua leitora “ficasse molhadinha” – no caso, falávamos de um livro belíssimo que ela escreveu, o “Duas iguais”, que trata de uma relação entre duas mulheres. Nele, despertar as tais sensações tinha tudo a ver com a narrativa – de alguma forma, tornava o leitor cúmplice de uma relação transgressora.

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