Uma bela Canção
Por Fernando Molica em 22 de maio de 2009 | Comentários (0)
Tenho uma velha implicância com hinos militares, aquela história de matar, trucidar, aniquilar. Admito também uma certa implicância com militares; fui criado durante a ditadura, caramba. A insistência das Forças Armadas em defender golpistas e torturadores só contribui para a manutenção dessa, digamos, distância crítica.
Mas nem por isso deixo de reconhecer feitos importantes, como a meio improvisada – e nem por isso menos heróica – participação dos brasileiros na 2ª Guerra. Nossos pracinhas lutaram do lado certo, ajudaram a enterrar o nazi-fascismo. Palmas para eles. Palmas emocionadas também para a “Canção do Expedicionário”, belíssimo hino de Spartaco Rossi e Guilherme de Almeida que embalou sonhos, cultivou esperanças e consolou medos e pesadelos ao longo da campanha na Itália. Não sei quando a ouvi pela primeira vez, sei que sempre a achei belíssima, cheguei a utilizá-la algumas vezes para sonorizar reportagens de TV.
Ontem, ao passar pelo ótimo blog “Histórias do Brasil”, do amigo alvinegro Luiz Antonio Simas, li um post específico sobre a “Canção do Expedicionário”. Simas fez alguns comentários e colocou links para a letra e para uma gravação do hino. É de arrepiar.
Sempre questionei aquela história de classificar o povo brasileiro como pacífico. Somos até violentos em excesso, basta olhar em volta. A longa experiência escravocrata também desmente esta tese pacifista. Mas, de qualquer forma, não deixa de ser legal ter um hino de guerra que pouco fala em combate. Um hino lírico, que exalta a terra natal e, citando um conhecido poema, ressalta a vontade de voltar – “Não permita Deus que eu morra/Sem que volte para lá”. E tome de falar em “praias sedosas”, “montanhas alterosas”, “pampas”, “seringal”,”margens crespas dos rios”, “luar do meu sertão”, “braços mornos de Moema/ Lábios de mel de Iracema”. Há trechos particularmente belos:
“Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz !”
e
“E de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.”
Sei não, acho que Cartola teria prazer em assinar versos como esses. Bem, aí vão duas dicas: visitar o blog do Simas e ouvir a bela Canção.