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Uma proposta modesta


Por Fernando Molica em 10 de abril de 2008 | Comentários (0)

As cenas, os palcos e as falas são praticamente os mesmos: atores e produtores teatrais vão a Brasília e reforçam o lobby para conseguir mais dinheiro público para suas iniciativas privadas. Até aí, nenhuma novidade – outros setores da economia também nunca conseguiram viver longe do colo estatal.

Desta vez, a cobertura tem sido um pouco mais crítica: reportagens ressaltam que, já há algum tempo, o dinheiro arrecadado nas bilheterias dos teatros deixou de ser assim tão importante. O que viabiliza as produções é a grana investida por patrocinadores que, depois, lhes é devolvida pelo Estado – aquele dinheirinho meu, seu e nosso.

O sistema passou a funcionar de uma maneira tão curiosa que chega a lembrar o argumento principal de “Os produtores”, hilariante musical de Mel Brooks em cartaz no Rio. Produtores teatrais bolam um esquema que só daria certo se montassem uma peça que desse prejuízo, saísse de cartaz imediatamente: eles ficariam com o dinheiro arrecadado dos patrocinadores que, por sua vez, herdariam o prejuízo.

No Brasil é mais ou menos assim: como os custos da produção são, geralmente, bancados pelo indireto patrocínio estatal, fazer sucesso pode ser um grande problema: a verba é prevista para bancar a produção apenas por um determinado número de meses. Ficar em cartaz além disso significa depender apenas – oh! – da bilheteria. Mel Brooks morreria de rir.

Mas, enfim, vamos à tal proposta do título. Todas as obras – hospitais, pontes, estradas – feitas com dinheiro público têm que ostentar uma placa que informa o quanto o Estado está investindo ali. A mesma lógica poderia ser utilizada nas atividades artísticas feitas com dinheiro público. Os produtores seriam obrigados a divulgar, antes do início de cada sessão, o valor que, compulsoriamente, o bravo povo brasileiro investiu naquela peça, filme ou exposição.

Enquanto isso não vem, continuo a sugerir um passeio pela página no Ministério da Cultura: lá dá pra saber, por exemplo, que o cantor Orlando Morais conseguiu autorização para captar R$ 1,5 milhão para custear 15 shows pelo Brasil. Sua colega Ana Carolina conseguiu amealhar R$ 700 mil no passado para financiar suas apresentações. Vale conferir.

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