‘Uma selfie’ na rede
Por Fernando Molica em 28 de abril de 2016 | Comentários (0)
Aí vão comentários postados no Facebook sobre ‘Uma selfie com Lenin’. Até aqui, a recepção tem sido bem legal – e é muito bom perceber as diferentes leituras do livro.
Antônio Torres,escritor:
LIVROS À CABECEIRA
Bom ver que nem tudo está parado ou que o país não parou de vez. Conquanto estejam pondo o pé no freio, por motivos óbvios, há editoras que ainda arriscam suas fichas, pelo menos em relação às pratas da casa, como é o caso da Record, que acaba de mandar às livrarias os livros assinalados abaixo, pela ordem de chegada à minha cabeceira:
1. “Uma selfie com Lenin”, de Fernando Molica – curto romance, em número de páginas, mas longo em significados, e no qual as atualidades políticas, existenciais e “lavajatorias” nele se colam, com malícia, ambição, sedução, grana, num texto cheio de ginga, bem carioca.
2. “Os contos completos”, de Alberto Mussa, premiadíssimo romancista que surpreende pela encantadora fabulação e fina carpintaria destas pequenas histórias.
3. “Luxúria” – romance de Fernando Bonassi, também conhecido como roteirista de cinema e dramaturgo, e que narra, “com ironia e realismo, um momento em que a soberba se espalhou pelo país, convencendo até o lascivo homem comum”.
4, Por fim, mas não por último, “Welcome to Copacabana”, reunião de 20 histórias de outro romancista consumado, muito lido, premiado e traduzido mundo afora, que se assina Edney Silvestre, um autor sempre bom de ler. Sim, distintas e distintos navegantes: se confiam minimamente no gosto literário deste que vos escreve, corram à livraria mais à mão.
Parabéns, caríssimo editor Carlos Andreazza, pelas suas vigorosas apostas.
Henrique Rodrigues, escritor:
Recomendo pacas Uma selfie com Lenin, romance do Fernando Molica. O protagonista é um antinefelibata, que durante um voo passa a limpo sua história e a do país numa longa carta. Incrível como o Molica joga com o particular e o público de forma equilibrada com o difícil recurso da segunda pessoa.
Sergio Leo, escritor e jornalista:
Não vou fazer resenha aqui, porque o sujeito é amigo meu de algumas décadas e não tenho imparcialidade. Mas sou crítico com o que escrevo e com o que os amigos escrevem, e acabo de terminar, deliciado, “Uma Selfie com Lenin”, do Fernando Molica _ obrigado feriadão de Tiradentes.
O “Notícias do Mirandão”, dele, é leitura indispensável para quem se interessa pelas tenebrosas transações entre tráfico, politica e imprensa no Rio de Janeiro. Aprendi muito, divertindo-me com ele. Já esse Selfie com Lenin, de timing perfeito, é uma amarga introdução ao mundo da corrupção banalizada, que atrai talentos na política e no jornalismo, e se quer respeitável.
Ousadia pesada, essa, de fazer do romance uma longa carta, e de mesclar a história com digressões que caberiam num textão de facebook, não fossem tão bem desenvolvidas, tão cuidadosamente escritas, tão calculadamente precisas, tão economicamente literárias.
Mas, como eu dizia, não vou fazer resenha porque adoro o sujeito por trás do livro. E, se fosse mulher, só não daria para ele porque está na cara que não deve ser muito bom de cama. mas escreve pacas.
Cid Benjamin, jornalista:
Pessoal, acabei de ler o último livro do Fernando Molica: “Uma selfie con Lenin”. É muito bom. Uma leitura leve, agradável e instigante. Recomendo.
Ricardo Lísias, escritor:
Comecei a prestar atenção em Uma selfie com Lenin depois de ver a capa compartilhada pelo autor no Facebook. Eu me lembrava vagamente da estátua do velho líder comunista, embora não conseguisse identificar na memória onde a tinha visto. Deve ter sido na viagem que fiz ao Leste Europeu em 2002. Em um velho álbum de fotos (não era ainda a época das imagens perfeitas do iPhone), localizei o lugar: um parque em Budapeste onde a administração da cidade, depois da queda do regime comunista, teve a feliz ideia de recolher as maciças estátuas que outros países, como a Romênia ou a Polônia, fizeram a besteira de destruir.
Um pouco depois, quando Fernando Molica compartilhou também um trecho do livro, pude confirmar minha suspeita: “Mas os caras foram mais criativos. Reuniram aqueles monstrengos, os despacharam para a periferia da cidade e criaram o Memento Park, um Jurassic Park do socialismo, o nome remete, veja só, a preces que tratam dos vivos e dos mortos. Entre os mortos-vivos de lá estão Marx, Lenin, Engels e, personagem principal, o povo.” Fico fascinado quando leio algo que me faz lembrar os lugares que me marcaram.
Uma selfie com Lenin é um livro fascinante. No enredo, personagens que tomaram conta do nosso dia a dia, como o doleiro, o lobbysta, um inequívoco Lindbergh Farias (sem o nome, por certo), malas de dinheiro e as manifestações de 2013. Há algo que me fascina ainda mais do que ler sobre os lugares que me marcaram: o mundo contemporâneo. Por isso, li o romance de Molica em uma tarde. Trata-se de um longo monólogo, em que em alguns momentos o narrador finge estar escrevendo uma carta. O artifício de ocultar um gênero no outro não é gratuito, já que no livro todo mundo parece estar fingindo alguma coisa.
Todos os relacionamentos descritos na novela têm um interesse disfarçado. O narrador mal esconde o ressentimento por trás do cinismo. É difícil aqui não adiantar alguma coisa do enredo, mas vale a máxima de que quem engana um dia será enganado. O narrador, por exemplo, tenta enganar o leitor já no início ao afirmar que viaja por causa de uma desilusão amorosa. O próprio leitor não vai se deixar enganar quando aparece a famosa estagiária sedutora. Claro que ele vai cruzar com a garota nos braços de outra pessoa, mas depois o leitor também é enganado pelo narrador: não é bem ela que o aguarda em uma determinada portaria carioca.
Enganar significa evidentemente fazer movimentos de um lado para o outro. O narrador, portanto, tinha que estar mesmo viajando. Uma selfie com Lenin é um desses livros que parecem estar com todos os procedimentos no lugar. Mas mesmo isso serve para incomodar o leitor, pois a narrativa mostra um extremo deslocamento de padrões éticos. De início, achei que esse descompasso pudesse ser um possível defeito literário. Como usar tão bem as ferramentas formais para criar uma narrativa em que nada está no lugar que deveria estar?
Devo dizer que li o romance de Fernando Molica na semana que antecedeu a votação do pedido de impeachment na câmara dos deputados. Inclusive, reli todos os trechos que tinha grifado no mesmo dia em que Michel Temer fez vazar o seu tenebroso áudio via whatsapp. Foi então que notei a coerência do romance: a falta de qualquer sentido ético em qualquer um dos planos de vida das personagens é de fato perfeita aqui, já que torna forma literária a grande tragédia brasileira – e latino-americana. Por isso, Uma selfie com Lenin é de fato um ótimo livro.
Flavio Izhaki, escritor:
Terminei em poucos dias a leitura do novo livro do Fernando Molica, “Uma selfie com Lenin”. É um interessante romance-confissão. Na minha leitura, um livro sobre dominação. Uma personagem subjuga a outra, interfere sobre a outra, monta sobre a outra. Mas com o correr das páginas, o personagem subjugado, aquele que confessa, vai percebendo que no fundo ele não estava preso, fez as escolhas que fez também por decisão sua, os fins dele também ignorando os meios. Talvez não subjugados, mas embaralhados no desastre iminente da queda.
Estruturar um romance como uma longa carta é um risco altíssimo. Muita coisa pode dar errado – a falta de enredo, o mesmo tom se arrastando por várias páginas, a falta de interlocução ou uma troca falsa – mas Molica consegue se equilibrar na corda bamba o tempo todo e desconstruir o próprio discurso do narrador e o mundo (da política) que é apresentado.
Leandro Resende, jornalista:
Meu avô Jaime, responsável pela minha introdução aos livros, não viveu pra ver que desenvolvi uma peculiaridade (que depois soube, felizmente não ser só minha): findada a leitura, releio a última frase, fecho e releio orelhas e contra-capa. É uma forma de adiar o fim do livro, talvez, e de criar um vínculo com o que, afinal, acabou de terminar.
Enquanto sacolejo sob Copacabana no metrô, posto este retrato com Fernando Molica, autor de “Uma Selfie com Lenin”, lançado esta semana e que – vamos ao lide – é um livro incrível, a ser lido por todos os angustiados nestes tempos confusos em que vivemos.
Há um trecho, que destaco sem spoiler, em que o protagonista revela nosso gosto por verdades tortas, grosso modo um resumo da nossa inabilidade em nos admitir e verbalizar nossas convicções, já que elas expõem tantas contradições. Parto daí para contar, tão somente, que trata-se de romance onde um angustiado protagonista redige uma carta para sua ex-chefe e ex-amante, tentando passar às palavras sua mudança de jornalista idealista, para mais um no meio de uma tensa rede de corrupção.
Mais que isso, Uma Selfie com Lenin radiografa nossos tempos ao tratar do egoísmo das redes sociais, da cortina de fumaça que cobre os monumentos e os ídolos, da grave crise que se espalhou sobre todas as camadas da nossa política. Tudo relatado na forma de reflexão de um personagem que roda a Europa em busca de si, e escreve ensandecidamente para desnudar seus anjos e seus demônios. Tudo, ainda, sem a pretensão de esgotamento legada aos romances.
São passagens incríveis como a análise do museu britânico, a descrição inicial tensa dos aeroportos, e o Gouveia, político idealista rei do “não é bem assim”. Meu vô Jaime, para quem indicaria o livro em gratidão , iria gostar muito das últimas páginas, surpreendentes à Sidney Sheldon. Viva Molica e as boas coisas que a gente tem sorte de ler!