Uma tolerância suicida
Por Fernando Molica em 22 de setembro de 2016 | Comentários (0)
A tolerância com abusos cometidos contra inimigos, adversários políticos ou acusados de crimes (qualquer crime) é absurda e, mesmo, suicida, Se não for defendido por conta de um sentimento nobre, de justiça, o apego à lei deve ser exaltado por egoísmo, em causa própria – afinal de contas ninguém está livre do poder discricionário do Estado.
Diante de abusos cometidos em nome da lei, alguns ressaltam que pretos e pobres sempre foram vítimas de situações muito piores. Sem dúvida, a tolerância de muita gente com essas práticas viabilizou situações como as que estão se tornando corriqueiras, e que agora atingem o andar de cima.
Mas comemorar a democratização do abuso e, assim, relativizar a gravidade de muitos fatos seria o mesmo que defender a eventual proliferação da miséria. A sociedade tem que lutar pelo contrário, para que todos tenham seus direitos respeitados.
Num de seus ótimos livros sobre a ditadura, Elio Gaspari diz que, com a adoção da tortura como método de interrogatório, os militares se igualaram aos comissários de polícia, tornaram-se cúmplices da barbárie, deixaram-se contaminar por práticas que sequer deveriam existir.
Como no velho ditado, o pau que dá em Chico é o mesmo que dá em Francisco. Ninguém sabe qual será a próxima vítima.