Violência não é uma herança genética
Por Fernando Molica em 29 de junho de 2015 | Comentários (0)
Estação Carioca, O DIA, 24/5.
O Fla-Flu em que se transformou a vida brasileira tem inviabilizado qualquer argumentação que não seja na base de uma luta do bem contra o mal. Mudando um pouco a frase do Xico Sá, o país virou uma interminável peleja do cordão azul-tucano contra o cordão encarnado-petista. Ficou difícil buscar alternativas que fujam às frases parecidas com hambúrgueres do McDonald’s — produzidas em série e prejudiciais à saúde.
Ressaltar que a violência está também relacionada à pobreza e, principalmente, à extrema desigualdade social não é igual a proteger bandidos. Entender as razões que levam uma sociedade a produzir tantos criminosos não significa defender a impunidade. Culpados devem ser punidos: políticos, empresários, policiais, milicianos, traficantes e jovens como os que mataram o médico Jaime Gold. Mas a condenação não impede o debate sobre motivos que levam à delinquência, um tema necessário até para tentarmos diminuir a ocorrência de crimes.
Semana passada, diante da revolta gerada pelo assassinato na Lagoa, a tarefa de colocar um pouco de sensatez ao pega-mata-come coube a dois personagens improváveis: Marcia Amil, ex-mulher de Gold e mãe de seus dois filhos, e Rivaldo Barbosa, delegado do caso. Sem negar a responsabilidade dos assassinos e a brutalidade do crime, frisaram que os algozes do médico também são vítimas de uma sociedade injusta. As declarações geraram torrentes de críticas: alguns ressaltaram o fato de ela ser a ex, o que justificaria um desejo de vingança; outros repetiram o velho “leva o bandido para casa”.
Nenhum dos dois fez carinhos virtuais na cabeça dos bandidos, eles apenas verbalizaram que não dá para reduzir a criminalidade só com polícia ou medidas simplistas como a redução da maioridade penal. Não dá para achar que muitos brasileiros nasceram com uma falha genética que determina a opção pela vida bandida. O mapa-múndi da violência é claro: a criminalidade é maior em países mais desiguais. Negar esta obviedade seria pregar que noruegueses ou suecos são melhores do que nós.
Baixemos a bola, escapemos de propostas que servem apenas para mascarar a incompetência de governantes, incapazes de gerar uma sociedade mais justa e segura.
Por último: todos os protagonistas dos grandes escândalos em governos têm mais de 18 anos. Sozinhos, roubaram muito mais do a soma das quantias amealhadas por menores de idade. Também não vale frisar que estes são mais violentos — o dinheiro que sobra em contas na Suíça e falta em escolas e hospitais gera mais vítimas do que tiros e facadas.